Na madrugada de 07 de março último fui acordado com uma mensagem do Eduardo Garcia. Ela dizia: Meu pai morreu. Muito triste, comecei a me lembrar de como o conheci.
Walfrido Garcia | Foto: Porfírio Menezes
Em uma manhã do longínquo ano de 1970 entrei pela primeira vez na Vila Hípica do Jockey Club de São Paulo. Ao chegar ao grupo 16, Walfrido estava sentado na guia em frente ao portão de entrada.
Caito Bianchi que me levou até lá, disse para o Walfrido: Como você se sente sendo líder das estatísticas com somente 10 cavalos? Ao que ele respondeu: com esse número de animais não vai durar muito.
Entramos na cocheira e Caito me disse, esse moço será o melhor treinador deste hipódromo, se já não o for.
A este tempo, Walfrido já treinara Pantheon que no fim da década de 60 foi correr o Pelegrini na Argentina, finalizando em 3º lugar,o ótimo Maverick, então exportado para os EUA, a líder da potrancas do ano anterior. Rainha de Saba e tinha em suas cocheiras uma das lideres da geração estreante, Spadavechia.
Original do Mato Grosso do Sul, da cidade de Três Lagoas nascido em 21/01/34, era filho do treinador Sebastião Garcia, sendo portanto pertencente ao clã Garcia. Casado com Dona Rosa teve 6 filhos todos homens: Edson, Edgard, Eduardo, Edmir, Walfridinho e Emerson, o primeiro veterinário e os outros treinadores de puro sangue de corrida. Dos 5 treinadores 4 deles ganharam provas de grupo I, sendo exceção Edgard, que morreu precocemente e que com certeza também ganharia.
A história foi adiante e Walfrido foi ficando famoso, chegando a ter sob seu comando e com a ajuda dos jovens filhos até 10 grupos de cocheiras com mais de 200 cavalos sob seus cuidados,
Dentre seus grandes feitos está ter levantado a Taça de Prata (quando esta era de extrema relevância) 5 anos em seguida, com direito a 3 dobradinhas.
Dentre os cavalos de destaque que treinou estão: DUPLEX, NEW ATACK, BRIGHT POLLUX, STEFF GRAF, ORIENT EXPRESS, CANDELABRO, LIVRETO, DOBRÃO, EUPHORIE, GIFT, REMEMBER. MAVERICK, LUNARD, PAY OFF, ENDURANCE, OUT CAPTA, ATLETICO, POUR HENRI, MUNDO, MOLHADO, SPADAVECHIA, AMOR POR INTEIRO, ULTINOV, IRVING, TROMBADINHA, KARÁ DE BIRIGUI, OVER SPIN, HEADBAND, PARTY, BOBBY CHARLTON CASSEROLE, VAL DAOSTA, FIRST CROP, REDONDO BEACH, LISBON, PANTHEON, SUMMER TRIP, FRIENDLAND, VIDEO GAME, ETC.
Walfrido nunca temeu fronteiras e quando um cavalo chamado DUPLEX demonstrou capacidade, ele o levou a levantar provas de Grupo I na Argentina(2 vezes), Uruguai e Peru, transformando DUPLEX indiscutivelmente em um dos grandes cavalos de nossa história e no melhor cavalo da América Latina de seu tempo.
Mas Walfrido não parou por aí. Ele pode ser chamado de pai da exportação de cavalos PSI brasileiros. A narrativa deste período vai ser descrita em artigo a seguir, que foi publicado originalmente no site Raia Leve em fevereiro de 2009, por ocasião do aniversário de 25 anos da aventura que iniciou de fato a exportação em escala de cavalos brasileiros para o EUA.
Este artigo foi originalmente escrito com o título "EXPORTAÇÃO: UMA AVENTURA INESQUECÍVEL" e na verdade deveria ter sido "WALFRIDO: O PAI DA EXPORTAÇÃO DE CAVALOS BRASILEIROS".
Entre os ensinamentos que aprendi com Walfrido, dois agora me vem à memória.
Quando perguntei quantos craques ele havia treinado ele me respondeu, somente um, DUPLEX, ao que eu disse, mas como? Você treinou tantos campeões! Ele então afirmou: DUPLEX me ensinou que craque é aquele que nunca precisa de explicação.
Conclusão: Procure qualidade, não desculpas.
Em uma outra oportunidade ele chegou para mim e disse: Você está de parabéns pegou um cavalo de uma vitória em Cidade Jardim, EPSON DOWNS, levou para EUA e lá ele ganhou 7 corridas sendo inclusive ganhador Clássico. Tente mais 20 vezes e isto não se repetirá.
Conclusão: Quando o errado dá certo, se você persistir no errado o fracasso será inevitável.
Walfrido, muito provavelmente, foi o único treinador brasileiro a ganhar corridas em 5 países diferentes sendo que em 4 deles levantou provas de Grupo I.
